A COP25 foi realizada de 2 a 13 de dezembro em Madri, na Espanha.
Paralelamente ao evento principal, houve a contribuição de comunidades indígenas amazônicas para dar visibilidade ao seu papel central na ação global contra as alterações climáticas, além do chamado urgente para a proteção dos territórios indígenas e a garantia de seus direitos indígenas coletivos.
#TodosOsOlhosNaAmazônia foi a voz de líderes, participantes e ativistas indígenas.
Através de uma ampla agenda, a COP 25 da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, realizada entre 2 e 13 de dezembro em Madri, foi cenário para governos, atores políticos, ativistas e organizações indígenas, ambientais e de direitos humanos para colocar no centro da discussão a crise climática e a necessidade de maiores ambições nessa temática.
Plataformas para eventos paralelos foram criadas para que organizações como a COICA, COIAB, COAPIMA e CONFENIAE se envolvessem com as partes e outros participantes com o propósito de compartilhar conhecimento, desenvolver habilidades, estabelecer contatos e explorar opções que possam ser implementadas. Essas organizações compartilharam desafios, demandas e propostas das comunidades indígenas e locais sobre a ação contra as alterações climáticas.
“Soluções baseadas na natureza, decisões baseadas em direitos”, “Todos os Olhos na Amazônia: estratégias para a defesa da terra” e “Ação Contra as Alterações Climáticas na Amazônia” foram alguns dos eventos organizados pelas organizações indígenas para discutir o papel dos povos indígenas na defesa de seus territórios e de como a tecnologia e a inovação juntamente com o conhecimento ancestral são importantes para a redução e adaptação às mudanças climáticas.
Durante o evento paralelo “Ação Contra as Alterações Climáticas na Amazônia”, Eliana Rojas, representante de Todos os Olhos na Amazônia*, declarou: “Os povos indígenas são essenciais para a proteção de sua terra e direitos, combinando o conhecimento tradicional e local com o uso de novas tecnologias (como drones, celulares e sistema de alertas preventivos), ações de defesa, campanhas de comunicação, Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e estratégias legais para a defesa das florestas e combate às alterações climáticas, avançando, assim, na redução da desigualdade, promovendo o bem-estar e garantindo os recursos naturais”.
Concomitantemente à COP 25, dois líderes indígenas do povo Guajajara no Maranhão, Brasil, foram assassinados no dia 7 de dezembro, e outro no dia 13 de dezembro. Esses eventos lamentáveis ocorreram um mês antes de outro líder Guajajara ser morto por madeireiros em seu território. Sônia Guajajara fez uma declaração pública contundente: “Esses crimes não são casos isolados; eles refletem o ódio que tem sido disseminado pela maior autoridade do país contra nós, os povos indígenas”. Nos eventos paralelos, líderes indígenas do Equador, Peru e Brasil pediram por ações urgentes para garantir prioridade no exercício total dos direitos indígenas e demandar respeito à vida e cultura dos povos indígenas.
Nara Baré, coordenadora da COIAB, enfatizou a importância da participação dos povos indígenas nas decisões governamentais. “Os Estados não podem decidir sem nossa participação”, disse ela. “Nossos direitos precisam ser garantidos em ações de combate às alterações climáticas. A mudança climática não pode ser considerada separadamente dos direitos humanos e indígenas”.
É possível a cogestão entre o Estado e os povos indígenas
A cogestão da Reserva Comunal Amarakaeri no Peru é um exemplo de que o trabalho conjunto com governos é possível. Durante o evento “Soluções baseadas na natureza, decisões baseadas em direitos”, Luis Tayori, em nome da ECA Amarakaeri (Executor do Contrato de Administração da Reserva Comunal de Amarakaeri), falou sobre os benefícios de construir uma relação de confiança entre o Estado e as comunidades indígenas e locais, com base na transparência mútua e compartilhamento de conhecimentos: “Não podemos proteger nosso território sozinhos; precisamos de outras culturas, outros conhecimentos e tecnologias”. Ele também apresentou o modelo de trabalho dentro da Reserva, “graças a nossos aliados [como o programa Todos os Olhos na Amazônia], fortalecemos o trabalho dos guardiões através do uso de tecnologias, como drones e smartphones, entendendo como podemos resguardar esses territórios combinando o conhecimento técnico com o tradicional”.
Hora de refletir e agir
Com o encerramento da Conferência de Mudança Climática das Nações Unidas, os países, as organizações, os ativistas e os líderes políticos de todo o mundo retornam para casa com a tarefa de refletir sobre os aprendizados e os avanços, mas também sobre os passos a serem trilhados para responder à emergência climática.
“Atualmente, estamos enfrentando não apenas uma crise climática, mas uma emergência humanitária na Amazônia”.
Carolina Zambrano, gerente do Programa Todos os Olhos na Amazônia
Carolina Zambrano, gerente do Programa Todos os Olhos na Amazônia, mencionou: “Atualmente, estamos enfrentando não apenas uma crise climática, mas uma emergência humanitária na Amazônia. Somente através de uma ação colaborativa e organizada para a defesa dos direitos indígenas seremos capazes de lidar com as duas questões”. É hora de colocar #TodosOsOlhosNaAmazonia e empoderar as comunidades locais e indígenas para a proteção de sua terra e direitos em prol da preservação da natureza e da redução e adaptação às alterações climáticas.
*Todos os Olhos na Amazônia (em inglês, All Eyes on the Amazon) é um programa único que apoia os povos indígenas e as comunidades locais em sua luta contra o desmatamento e a degradação do ecossistema. Combina tecnologias de ponta, como satélites, drones e aplicativos inovadores, para detectar desmatamento, destruição e violações de direitos humanos e fazer um registro desses fatos para seu possível impedimento.